Space Transcribers

PT/EN

Julho 2017

Os monumentos do meu bairro

Oficina de fotografia

Uma oficina de fotografia, orientada para crianças e adolescentes de três bairros sociais de Braga que procurou explorar mecanismos de interação, aproximação e valorização dos espaços e dos objectos comuns do quotidiano dos seus participantes e das suas vidas nos seus bairros.
 

A oficina de fotografia do projeto "Transcrever", inserido no programa “Reescrever o nosso bairro”, foi uma atividade orientada para as crianças e adolescentes dos Bairros das Enguardas, Picoto e Santa Tecla, em Braga, Portugal. Apoiando-se nas possibilidades pedagógicas e sensitivas das fotografia a atividade, a que se chamou “Os Monumentos do Meu Bairro”, procurou explorar mecanismos de interação, aproximação e valorização dos espaços e dos objectos comuns do quotidiano dos seus participantes e das suas vidas nos seus bairros: a máquina fotográfica passa a ser um instrumento mediador no processo de inclusão revitalizando relações concretas de apropriação e identidade muitas vezes banalizadas mas que se tornam agora monumentos.

O exercício consistiu em distribuir máquinas fotográficas analógicas descartáveis a um grupo de crianças e adolescentes, com idades compreendidas entres os 5 e o 15 anos, e incitá-los a olhar para os objectos e os espaços, isto é, as coisas, que mais apreciam ou desapreciam no seu bairro e nas suas casas: desde a sua bola de futebol, o seu animal de estimação, passando pelo seu quarto, o seu melhor amigo e a sua família, estas fotografias procuram ser um testemunho atual e realista da vida nestes bairros sociais.

O cidadão comum olha, generalizadamente, para estes bairros e estas populações através de um cone muitas vezes viciado, de um conjunto de ideias preconcebidas normalmente associadas à criminalidade, à violência, à pobreza que, por fim, criam distância e acentuam a segregação.

Através do olhar descomprometido e da inocência voluntária do olhar infantil, “Os Momentos do Meu Bairro” procuram ser um instrumento ativo na desconstrução destes perconceitos e na reeducação desse cidadão comum monstrando-lhe imagens repletas de vivência, alegria e de um sentido crítico para com o espaço colectivo e pessoal tão difícil de encontrar na sociedade contemporânea.
A atividade dividiu-se em duas partes distintas:

— A primeira parte correspondeu ao desenvolvimento prático e experimental com a distribuição da máquinas fotográficas, aprendizagem do seu manuseamento, explicação dos objectivos gerais da atividade e realização das fotografias. Após esta experiência as máquinas foram recolhidas, levadas para laboratório para revelação e impressão de folhas de contacto. Seguiu-se uma sessão onde se promoveu um diálogo com os participantes em torno das fotografias realizadas através das folhas de contacto e da seleção de 6 fotografias para amplicação e impressão. Este foi o momento central da atividade onde, através do passeio pelo bairro, do diálogo e do manuseamento e observação através da máquina fotográfica, os participantes eram induzidos a olhar de forma crítica para os espaços e os objectos que tinham por banais.

— A segunda parte corresponde à entrega das fotografias selecionadas e à realização da exposição pública. Nas fotografias selecionadas constam 5 fotografias impressas em formato 10x50 e uma em formato 20x30 emoldurada. Este ato serve não só como recompensa pela atividade mas também como símbolo de valorização de um trabalho, objecto que pode perdurar no tempo e na memória dos participantes e dos seus familiares. Da mesma, a exposição pública, que integra a exposição geral das atividades desenvolvidas pelos Space Transcribers no projeto “Reescrever o nosso bairro”, onde deverá constar pelos menos uma fotografias de cada um dos participantes, serve também como valorização desse trabalho e, aproveitando a visibilidade e proximidade do público e cidadão comum bracarense, serve principalmente o objectivo de reeducar esse público, ensaiando a desmistificação e desconstrução dos preconceitos em torno destes bairros e das suas populações.

PROMOTOR

Município de Braga
 

ORGANIZAÇÃO

Space Transcribers
 

DATA

Junho a Julho de 2017
 

LUGAR

Braga, Portugal
Bairro Social das Enguardas
Bairro Social de Santa Tecla
Complexo Habitacional do Picoto
 

COORDENAÇÃO

André Castanho Correia
 

Num período onde a profusão de imagens é imensa e onde a fotografia é um instrumento muito democratizado do quotidiano de qualquer pessoa, a realização desta atividade começou por ser uma incógnita; tal como a maioria dos adolescentes e das crianças de hoje em dia, também estes têm fácil acesso a internet e a smartphones e tablets onde a fotografia se pode levar no bolso, correndo o perigo de ser algo banal. Muitos destes miúdos nasceram e cresceram numa realidade para quem a fotografia em película nunca existiu remetendo-a para uma categoria virtual e imaterial num qualquer ecrã.

A resposta a esta atividade seria contudo um sucesso: o objecto máquina fotográfica traduziu-se um fiel companheiro à experiência do bairro assim como o manuseamento da fotografia impressa uma recompensa alegre, motivo de diálogo e de compadecimento. A adesão foi total tanto por parte de cada criança como dos seus familiares e amigos: a criança exercia uma função de responsabilidade cívica importante enquanto fotógrafo e reporter da realidade do seu bairro, da mesma forma, os adultos participavam e orgulhavam-se em cada pose de cada retrato.

Muitas destas crianças podiam vir a ser bons fotógrafos. Isto nota-se não só pelas fotografias que concretizaram, mas também pela paixão, pelo empenho e pelo envolvimento com que realizaram o desafio que lhes tinha sido colocado. Esta é uma realidade pouco provável nomeadamente em contexto escolar, onde estas crianças são geralmente marcadas pela suposta falta de capacidades, pela postura agressiva e pela divergência daquilo que é a conduta normal em ambiente de escola e em confronto com o seus colegas de realidades sociais distintas.

“Os Monumentos do Meu Bairro” têm também, e por isso, uma atitude pedagógica, mostrando que mesmo num contexto difícil de um bairro, de famílias carenciadas marcadas pelos piores problemas no que respeita a condições económicas, sociais e educacionais, também há espaço para a sensibilidade, para a crítica e para o desempenho dedicado e repleto de talento de uma atividade criativa.

Ficha Técnica

OS MONUMENTOS DO MEU BAIRRO:
OFICINA DE FOTOGRAFIA

Julho e Agosto de 2017
Braga, Portugal

Bairro Social das Enguardas,
Bairro Social de Santa Tecla,
Complexo Habitacional do Picoto
 

Projeto
(Re)Escrever o Nosso Bairro
 

Promotor
Câmara Municipal de Braga
 

Organização
Space Transcribers
 

Coordenação
André Castanho Correia
 

Participantes
Bairro Social das Enguardas
Américo Monteiro
Francisca Queiroz
Gonçalo Queiroz
Jesus Corona
João Monteiro
Márcio Ferreira
Mariana Monteiro
Matias Pereira
Milito Monteiro
Nataniel Monteiro
Rodrigo Queiroz
 

Bairro Social de Santa Tecla
Arnaldo Nascimento
Célio Nascimento
Francisca Cabreiros
Georgina Maia
Gerson Maia
Gonçalo Maia
Isaque Romero
Juliano Cabreiros
Miguel Cabreiros
Ricardo José
Sara Maia
Tamara Nascimento
 

Complexo Habitacional do Picoto
Adonai
Álvaro Maia
Emanuel Salazar
Erica Monteiro
Erica Silva
Francisco Monteiro
Joel Pedro
Mara Maia
Mateus Tibita
Nádia Monteiro
Noemi Maia
Samuel Monteiro
Francisco Maia
Débora Maia
 

Apoio
Cruz Vermelha, Delegação de Braga — Geração Tecla (Programa Escolhas)
Centro Social de Santro Adrião — T3TRIS (Programa Escolhas)
Associação de moradores das Enguardas
 

Financiamento
Norte 2020 - Fundo Social Europeu