Setembro 2017
Transcrever Summer Lab 2017
PRÁTICAS SOCIO-ESPACIAIS NOS BAIRROS SOCIAIS DE BRAGA
O Transcrever Summer Lab: Práticas Sócio-Espaciais nos Bairros Sociais de Braga foi um laboratório experimental e teórico-prático, que decorreu em três bairros sociais de Braga, contando com a presença de diversos agentes e profissionais multidisciplinares para abrir a discussão sobre a realidade e as problemáticas existentes nestes bairros de modo a produzir novas narrativas e possibilidades de atuação sobre estes lugares.
Esta questão serviu de ponto de partida para se desenvolver esta atividade cujos
objetivos foram: gerar uma discussão aberta e crítica sobre o estado atual dos bairros sociais de Braga; aprender e partilhar conhecimento entre os participantes e a comunidade dos bairros; entender e interagir com estes lugares específicos, nas suas dinâmicas distintas e com os seus agentes locais, através do uso e da integração de práticas sociais e artísticas enquanto catalisadoras de mudança; e experimentar ações participativas e sustentáveis sobre os bairros sociais de Braga, que respondam a problemáticas existentes e que garantam um futuro promissor para estes lugares.
Selecionamos 33 candidatos que foram distribuídos em 3 grupos de trabalho, um por bairro. Aos grupos foi solicitado que realizassem trabalho de campo imersivo através da observação, diálogo e de registo das problemáticas e potencialidades encontradas nos bairros. Finalmente cada grupo teve que realizar um projeto que visasse não só
questionar de uma forma crítica problemáticas existentes nos bairros sociais, mas também propor uma estratégia de intervenção visível sobre este lugar, seguindo um conjunto de temáticas pré-definidas de inclusão social, de igualdade e de participação ativa.
Além do tempo utilizado para cada grupo realizar o seu projeto, ocorreram paralelamente ao longo da semana um conjunto de atividades transversais e de apoio, tais como: sessões abertas dadas por convidados especialistas nacionais e internacionais, fóruns com a comunidade,
refeições comunitárias, projeção de filmes e eventos sociais.
PROMOTOR
ORGANIZAÇÃO
Space Transcribers
DATA
4 a 9 Setembro 2017
LUGAR
Bairro Social das Enguardas
Bairro Social de Santa Tecla
Complexo Habitacional do Picoto
Desde o momento em que chegamos ao Bairro das Enguardas, o limite entre os moradores Roma e não Roma era claro, visível. A falta de comunicação entre os vizinhos e a necessidade de representação desta fronteira étnica e social, foram factores importantes para considerar estas duas comunidades (Roma e não-Roma) como um todo. Para isso, o nosso grupo de trabalho decidiu focar-se nas semelhanças e nas problemáticas que todos partilhavam e partilham, de modo a criar-se um “Espaço Comum”. Assim, o projeto desdobrou-se em diversas fases:
1. Fase de Comprometimento:
Nesta fase, o objetivo centrou-se em interagir com a comunidade, através do diálogo e da criação de pontes de comunicação. Este diálogo deu-se através da realização de diferentes atividades com a comunidade Roma e não Roma, como o desenho, o vídeo, os jogos ao ar livre com as crianças, e a dança.
2. Fase de Intervenção:
Face ao preconceito negativo relacionado com a discriminação e divisão étnica/social dentro do bairro, o nosso grupo de trabalho teve como objetivo principal encontrar e/ou criar o "Espaço Comum" desta comunidade. Este “Espaço Comum” deveria ser um espaço de interseção onde todos os habitantes do bairro pudessem reunir, conviver e partilhar as suas realidades, criando assim uma semente para num futuro este ser um espaço de representação, gestão e decisão das problemáticas inerentes à comunidade Roma e não-Roma do Bairro das Enguardas.
De modo a criar-se este “Espaço Comum”, organizou-se um picnic numa área central e neutra do bairro com/para e pelos residentes, enquanto estratégia de envolvimento, ligação e entre ajuda entre vizinhos Roma e não-Roma do bairro. Além disso, decidiu-se usar uma das empenas de um dos blocos do bairro, como pano de fundo para projetar cinema ao ar livre durante a noite da realização do picnic. A projeção que se mostrou, foi a de um filme feito por e para os residentes, num intuito de se criar não só um vínculo entre os habitantes, mas também de gerar nos residentes do bairro um reconhecimento de união e coletivismo.
3. Fase do legado:
No final do picnic, o nosso grupo de trabalho decidiu que seria importante deixar um legado das atividades que se tinham desenvolvido, como incentivo à realização de atividades futuras comuns entre a comunidade Roma e não-Roma do bairro. Este legado, traduziu-se num "Kit" que foi entregue à Associação de Moradores das Enguardas, e que continha luzes, acessórios básicos para picnics, decorações para festas e brinquedos.
Um dos principais triunfos do projecto foi o feedback que recebemos dos residentes durante e após o picnic. ”Deveria ser assim todos os dias..." ou "Não posso acreditar que isto esteja acontecer aqui!" foram apenas algumas das reações que escutamos, provando assim à comunidade e ao nosso grupo de trabalho que, com vontade, dedicação, ativismo e participação, todos nós podemos encontrar e criar o nosso Espaço Comum.
FORMATO
Vídeo
Picnic
MONITORES
Belen Zevallos, Space Transcribers
André Castanho Correia, Space Transcribers
PARTICIPANTES
Mathias Coutant-Tisic
Naima Manfrè
Maria Maia
José Fernandes
Paula Martins
Anthony Faria
Margarida Maurício
Gonçalo Fernandes
Michelle Lezana
Adam Bellagha
MICRO-SITE
Após a primeira visita à comunidade de Santa Tecla, que é na sua maioria Roma, começamos a discutir sobre possíveis estratégias para lidar com as complexidades sociais, urbanas e políticas inerentes a este bairro social. Deste modo, quando chegamos ao bairro de Santa Tecla, tivemos como objetivo primordial o de conhecer as condições espaciais da habitação social; a comunidade existente e a sua relação com a cidade. De modo a entrarmos no bairro e a ganhar a confiança da comunidade, utilizamos metodologias informais, tais como: conversar com os moradores num intuito de entender as suas histórias e preocupações; brincando com as crianças; ou simplesmente observando as especificidades do bairro; documentando-as através de fotografia e/ou vídeo quando possível e permitido.
Através deste trabalho de campo imersivo dentro e com a comunidade, acabamos por criar uma ligação inesperada com a mesma. Após alguns dias de convívio com os residentes de Santa Tecla, acabamos por descobrir uma comunidade hospitaleira e aberta ao exterior, com vontade e curiosidade de nos conhecer e de partilhar as suas histórias, os seus espaços, os seus hábitos e um pouco das suas vidas. Consequentemente, após esta troca e partilha de experiências, concluímos que uma das principais preocupações da comunidade de Santa Tecla estava essencialmente relacionada com a imposição do futuro projeto de regeneração urbana previsto para o bairro em 2018, e promovido pela BragaHabit – a entidade municipal detentora e proprietária do bairro de Santa Tecla.
Além disso, entendemos ainda que as questões que mais preocupavam os residentes não se esgotavam no projeto de regeneração, mas antes na ausência do seu entendimento e de comunicação pela parte da BragaHabit face ao seu futuro processo de implementação. De forma a combater esta falta de comunicação e entendimento entre a BragaHabit e os residentes de Santa Tecla, decidimos “replicar” e preformar parte do futuro projeto de regeneração seguindo 3 práticas sócio-espaciais.
A primeira, utilizou as brincadeiras existentes das crianças no espaço público do bairro como ponto de partida. Pedimos às crianças para trazerem farinha das suas casas para o espaço público, de modo a desenharmos à escala 1:1, a futura rua que irá cortar o espaço público entre blocos (consequência do futuro projeto de regeneração urbana) e que ironicamente é o espaço onde atualmente as crianças usam e se apropriam para brincarem e para se expressarem. Assim, através desta prática lúdica e poética, foi possível não apenas explicar espacialmente e à escala real parte integrante do projeto de regeneração aos residentes do bairro, mas também entender as consequências para o atual espaço público do bairro.
A segunda prática, usou a rua desenhada com farinha pelas crianças, como um pano de fundo para preformar com os residentes adultos do bairro algumas questões como: “Em que lado da rua é que vive? Em que lado do espaço público passa mais tempo? Entendeu o futuro projeto de regeneração urbana?” de modo a catalisar um debate sobre as consequências do futuro projeto face às atuais dinâmicas da comunidade no espaço público. Através desta performance, os residentes começaram espontaneamente a debater entre eles e connosco o atual e o futuro estado do bairro, demonstrando assim que estão não só abertos a um diálogo aberto e construtivo, mas também que estão interessados em conhecer, saber e participar no processo de construção do futuro projeto de Santa Tecla.
A terceira e última prática, utilizou a documentação das primeiras duas – tanto o desenho poético em farinha da futura rua no espaço público do bairro, como a performance com a comunidade – como mote para criar postais que visam tornar visível de um modo crítico todo o processo. Estes postais foram distribuídos pela cidade de Braga, especialmente no centro da cidade em cafés, lojas e instituições públicas (incluindo a BragaHabit), de modo a tornar público quer aos cidadãos de Braga, quer a entidades públicas/privadas ou aos turistas, criando deste modo uma consciencialização coletiva não só sobre o futuro projeto de regeneração urbana, mas também sobre a comunidade existente de Santa Tecla e as suas problemáticas.
FORMATO
Vídeo “Ephemeral Participatory Road”
Vídeo “Postcards from Braga”
Postais (distribuídos no centro de Braga)
MONITORES
Mohamad Hafeda, Febrik
Francisco Costa, Space Transcribers
Fernando P Ferreira, Space Transcribers
PARTICIPANTES
Sophia Garner
Riham El Moazen
Giulia D’Antonio
Szymon Stępniak
Maria Lima
Diana Pereira Araújo
Pedro Monteiro
Gonçalo Marques
Lara Ferreira
Rasha Askar
George Jepson
MICRO-SITE
Desde a primeira visita aos três bairros, foi-nos possível perceber que o panorama do Picoto era relativamente mais complicado e cinzento comparativamente ao Bairro Social de Sta. Tecla e ao Bairro Social das Enguardas, no que diz respeito a soluções a curto e médio prazo, para problemas de alojamento/realojamento.
Durante os seis dias do Summer Lab procuramos conhecer os habitantes do Picoto e as condições em que vivem.
O grupo de trabalho foi dividido em duas frentes. Uma parte do grupo trabalhou in situ, estabelecendo um contacto informal com os moradores, refletido na estratégia adotada para a interação. Foram desenvolvidas atividades e jogos com as crianças. Com os adultos conversámos, partilhámos e ouvimos as suas histórias.
Enquanto uma parte do grupo vivenciava diretamente a realidade do bairro, a outra parte desenvolvia um trabalho mais analítico e cartográfico, tendo com base os desenhos e mapas disponíveis, os registos fotográficos, os testemunhos, a legislação, entre outros documentos que iam sendo produzidos.
Ao longo da interação no bairro com os seus moradores, fomos percebendo que o maior problema do bairro do Picoto ia para além das condições em que vivem. Apesar das habituais divergências entre vizinhos, há um sentimento generalizado de desalento de uma promessa de realojamento que lhes terá sido feita num passado cada vez mais distante. Facto é que o Bairro do Picoto foi anunciado como uma solução temporária desde a sua incepção. De notar também alguma relutância dos moradores quanto à temporização e à localização de um eventual realojamento – dentro da comunidade do Picoto há relações e núcleos que não se intersectam, e há também preocupação relativamente à (nova) integração. Envolto em impedimentos totalmente alheios aos moradores, num processo que se arrasta há quase duas décadas, o bairro sofre com a síndrome do esquecimento. Após as primeiras visitas ao Picoto decidimos que o ideal seria voltar a colocar o bairro nos ouvidos e na mente da população e dirigentes bracarenses.
Com base em toda a informação que ia sendo registada em conversas, fotografias e vídeos, o grupo reuniu as normativas e referências legais adequadas, para que se pudessem equacionar e propor uma série de estratégias possíveis de atuação sobre o bairro. Essencialmente, queríamos transmitir a realidade do bairro e a informação legal selecionada de forma prática e que funcionasse como guia, que para os habitantes é uma ferramenta de ampliação da sua capacidade de ação e para os restantes cidadãos é uma tomada de conhecimento.
Desta maneira, durante o decorrer do Summer Lab, o trabalho desenvolvido resultou em vários produtos: um booklet, o elemento mais técnico, que contém legislação e diretivas selecionadas e dá o mote para estratégias de ação; foram desenhados um conjunto de diagramas, onde os problemas foram identificados, relacionados e organizados, esclarecendo a pertinência e a sua escala relativamente às suas área de inserção (socioeconómicas, culturais e de integração na realidade urbana); um script ou guião, que surge associado a um pequeno filme documental onde se revelam momentos do quotidianos dos habitantes do Complexo Habitacional do Picoto e, consequentemente, da necessidade de uma edição que sugerisse um sentimento de empatia e aproximasse o bairro e as suas histórias do que é externo – da cidade de Braga. Por fim, foi criado um micro-site que reúne o material e consolida todo o trabalho e resultados do respetivo grupo do Summer Lab e tem como principal objetivo dar a conhecer um pouco melhor a realidade do Complexo Habitacional do Picoto como espaço urbano.
FORMATO
Vídeo
Script
Diagrams
Manifesto
MONITORES
Tiago Mota Saraiva, ateliermob
Raquel Coronel, ateliermob
Daniel Duarte Pereira, Space Transcribers
PARTICIPANTES
Therese Eberl
Pétilin Souza
Georgi Kharitonashvili
Marta Coelho
Inês Oliveira
Diana Amaral
Gonçalo Rodrigues
Iolanda Andrade
Luís Santos
João Nuno Cardoso
Yip Wing Siu
MICRO-SITE
Ficha Técnica
Transcrever Summer Lab 2017 — Práticas Sócio-Espaciais nos Bairros Sociais de Braga
4 a 9 de Setembro de 2017
Projecto
(Re)Escrever o Nosso Bairro
Promotor
Câmara Municipal de Braga
Organização
Space Transcribers
Coordenação
Daniel Duarte Pereira, Space Transcribers
Fernando P Ferreira, Space Transcribers
Grupos
Bairro Social das Enguardas
Monitores
Belen Zevallos, Space Transcribers
André Castanho Correia, Space Transcribers
Participantes
Mathias Coutant-Tisic
Naima Manfrè
Maria Maia
José Fernandes
Paula Martins
Anthony Faria
Margarida Maurício
Gonçalo Fernandes
Michelle Lezana
Adam Bellagha
Bairro Social de Santa Tecla
Monitores
Mohamad Hafeda, Febrik
Francisco Costa, Space Transcribers
Fernando P Ferreira, Space Transcribers
Participantes
Sophia Garner
Riham El Moazen
Giulia D’Antonio
Szymon Stępniak
Maria Lima
Diana Pereira Araújo
Pedro Monteiro
Gonçalo Marques
Lara Ferreira
Rasha Askar
George Jepson
Complexo Habitacional do Picoto
Monitores
Tiago Mota Saraiva, ateliermob
Raquel Coronel, ateliermob
Daniel Duarte Pereira, Space Transcribers
Participantes
Therese Eberl
Pétilin Souza
Georgi Kharitonashvili
Marta Coelho
Inês Oliveira
Diana Amaral
Gonçalo Rodrigues
Iolanda Andrade
Luís Santos
João Nuno Cardoso
Yip Wing Siu
Sessões abertas
Dia 4 de Setembro
”On Participation” por Belen Zevallos, Space Transcribers
“ Monuments of my
Neighbourhood” por André Castanho Correia, Space Transcribers
Dia 5 de Setembro
“Occupying a Palace” por Tiago Mota Saraiv, ateliermob
“Roma communities: social consistencies through times” por Silvia Gomes, Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da UMinho
Dia 6 de Setembro
“Invisible Borders: the daily obstacles faced by the Portuguese Gypsies” por Tiago Carrasco
“Negotiating Conflict” por Mohamad Hafeda
Dia 8 de Setembro
“Remoteness: Robin Hood
Gardens” por Cidália Ferreira Silva, EAUM, e Fernando P Ferreira, Space Transcribers
”Social Re-Housing in Europe” por Vincenzo Riso, EAUM
Exibição de filme
“Roma Acans” (2012) e “Balada de um Batráquio”(2016). Apresentado por Vanessa Matos.
Convidados
Miguel Bandeira, Município de Braga
Vitor Esperança, Bragahabit
Nuno Araújo, Bragahabit
Luís Abreu, Bragahabit
Cláudia Lima, Bragahabit
Virgínia Santos, Geração Tecla
Vanessa Santos, Geração Tecla
Barbara Santos, t3tris
Hugo Caseira, t3tris
Espaço de trabalho
Galeria temporária do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa
Apoio local
Cruz Vermelha, Delegação de Braga — Geração Tecla (Programa Escolhas)
Centro Social de Santro Adrião — T3TRIS (Programa Escolhas)
Associação de moradores das Enguardas
Agradecimentos
Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa
TUB — Transportes Urbanos de Braga
Museu dos Biscainhos
Espaço TOCA — Synergia
Financiamento
Norte 2020 - Fundo Social Europeu
